No primeiro dia em que saímos no jornal, apareceu o Trevor à nossa procura. É apaixonado pelo seu jardim e queria mostrar-nos o seu trabalho.
Disse que há anos que se dedica a ele e que está quase finalizado. Fomos a pé até à sua casa. Ouvi-mo-lo falar sobre os seus pais, sobre a sua vida, o trabalho, e o seu amor pelo jardim. Quer que partilhemos aqui para mostrar aos seus familiares que estão em Inglaterra e que não podem ver. Ele não tem internet.
Os seus pais eram ingleses, vieram morar para Aurora em 1930. O seu pai, tocador de órgão numa igreja, já era um apaixonado por jardins e passou esta paixão a Trevor. A sua mãe era educadora de infância. Trevor, nasceu em 1940 e viveu sempre em Aurora. Excepto em 1960 quando foi dois anos para Inglaterra. Trabalhou toda a vida num supermercado, agora reformou-se mas continua a trabalhar em part-time. Dedica-se a colecionar antiguidades e claro ao seu jardim. Tem um irmão, que vive em Toronto. O seu irmão casou-se e tem dois filhos. Uma vida diferente da de Trevor. Menos solitária, imaginamos nós.
É engraçado ver as casas no Canadá, diferentes das de Portugal, na medida em que praticamente não há muros. As frentes são todas juntas, co, jardins que delimitam umas casas das outras. Atrás sim, cada casa tem o seu pequeno jardim com uma fence em madeira, nada de muros altos que limitam a conversa ou até um pedido de ajuda.
Mas a casa de Trevor distingue-se das outras, o seu jardim é feito não com relva mas com pedras. Nós viemos de Sudbury, sabemos bem o quanto as pedras estão presentes no dia-a-dia dos canadianos. Trevor foi buscar as pedras para construir o seu jardim a Parry Sound. Escolheu-as de várias cores, feitios e foi-as organizando para criar algo visivelmente diferente. A cada fim-de-semana que lá ia trazia umas cinco.
Ao entrar no jardim das traseiras, mais alguns recantos trabalhados com pedras. Para Trevor, o jardim é um processo criativo, e como tal nunca está terminado. Passa aqui 5 horas por semana, a delinear todos os pormenores, a re-ajustar cada pedra. Com a neve, cada ano, há plantas que morrem e é preciso voltar a plantar a cada Primavera.
Perguntamos a Trevor, o que é o amor para ele: muitas coisas, acordar de manhã e perceber onde te encaixas no mundo, deixando a negatividade para trás. Estar confiante e aproveitares aquilo que a vida te dá. Para ele a arte é uma forma de amor: música, pintura, o seu jardim é um ato de amor. “A vida é aquilo que fazes dela” disse-nos o Trevor.