Chega ao fim a nossa viagem mas será que o fim não será o princípio?
A pouco e pouco fomos ficando com saudade. Da Duna, que recebíamos vários vídeos durante a semana, estava bem mas o nosso coração apertadíssimo com ela. Saudades da família, de dar um abraço e uma conversa cara a cara para poder ver se tudo está bem. Começamos a sentir falta de um chuveiro, de água quente para tomar banho, de deitar-nos na cama sem ver primeiro se está cheia de percevejos. Queríamos saber que íamos gostar da comida que comíamos ainda antes de meter uma garfada à boca e não desconfiar de tudo tentando evitar alguma gastrointrite.
Apetecia-nos falar em Português com outras pessoas, e rir em Português. É tão bom rir no nosso idioma!
Adorávamos sentir o nosso mundo por um bocado, vestir as roupas bonitas que temos em casa. Poder abrir uma gaveta para tirar uma camisola e não estar constantemente a fazer a mochila. Não ter que começar de novo a cada dia ou semana, numa cidade nova, num país novo, novo idioma, novo dinheiro, nova comida.
Mas tanto tempo de planeamento para cumprir um sonho e agora estar cheios de vontade de regressar?
Quero acreditar que o nosso cérebro está muito à frente, e vai criando está saudade quanto mais estamos a ponto de regressar para que nos apeteça. Para que nos urja a vontade, para que não consigamos pensar noutra coisa. E ao chegar aproveitamos aquilo tudo, as conversas com os amigos, os abraços da família, o café expresso, os cheiros, os passeios, os telefonemas, aproveitamos ainda mais, porque tínhamos saudade, porque vimos o difícil que é a vida em tantos outros sítios. E de alguma forma, tudo o que antes era a nossa vida: era agora novo outro vez.
E com o tempo vamos voltando ao nosso eu. Ou tentando pelo menos, porque o que éramos em Julho do ano passado não está mais aqui. Mudamos, e nós agora somos uma novidade para nós próprios, porque na viagem tudo era novo e íamos vivendo a experiência. Mas agora é real. A nossa realidade!
Estamos aqui, os nossos amigos contam-nos o que se passou durante estes 9 meses em 5 minutos e nós não conseguiríamos resumir a 5 horas. As coisas que antes dávamos tanto valor perderam o sentido e sentimo-nos ridículos: para que? Porque nos incomoda tanto a chuva aqui se temos um tecto e um carro que nos leva a todo o lado e nos outros sítios ríamos por umas gotas.
Esses países agora são nossos também, não sei como vai ser no mundial deste ano, depois de Portugal e Espanha que pais vamos apoiar? Imaginar a alegria dos amigos que fizemos nesses países não tem preço. E depois também as preocupações, ver as notícias que aparecem agora sobre a Nicarágua, o nosso país preferido, deixa-nos preocupados, como estarão os amigos que fizemos lá? As senhoras do Hostal Barcelona que nos receberam durante uma semana e gostavam tanto da Duna como nós?
Voltar é necessário para podermos ir outra vez! Sempre disse que gostava de ter duas vidas, por motivos profissionais, mas agora quero duas vidas uma para ir e outra para ficar! Uma para desbravar o mundo com olhos de criança, coração de adolescente que se apaixona por tudo e compreensão de uma velhinha que já viu muito e outra vida para ficar em casa, com um pequeno negócio, nos braços da família, com almoços de domingo (ou noutro dia qualquer que isto dos restaurantes já se sabe) e jantares de sábado com os amigos. Não vai dar, vamos ter que conciliar, que programar uma outra saída, vamos ter que nos reinventar. Está é a vida que nos escolheu: viajar e voltar. Não queremos viajar eternamente e perder as nossas raízes que gostamos tanto, mas não nos queremos conformar a viver o mesmo dia: uma e outra vez!
Ainda só passou um mês e tem dias que se estão a fazer longos. Não queremos que seja um dia a menos nas nossas vidas, queremos que seja sempre um dia a mais! Há sabores, paisagens que se tornam difusas, quando eram tão eternos.
Voltamos a saber sempre em que dia estamos, e queremos voltar a não saber distinguir um domingo de uma quarta-feira, ou uma segunda-feira de uma sexta-feira. A perder a noção do tempo, a decidir que estrada escolher a cada momento, a pensar no melhor metodo de transporte e no que nos espera ao chegar a um sítio novo. E estar alerta em todos os minutos, não querer perder nada, tudo importa, absorver e refletir ao chegar a uma cama ao final do dia. E tentar guardar para sempre na nossa memória! Querer recordar onde estivemos, os nomes de quem conhecemos, as iguarias que comemos... em casa não nos preocuparmos se não nos lembrarmos do dia de hoje, foi apenas um dia mais!
Mas a terra é redonda por isso nós acreditamos que isto não é o fim, e vamos ter que aprender a regressar de cada vez!
*ainda nos falta contar muito da viagem, vamos manter-vos a par!