Uma cidade diferente de tudo. Somos uns fáceis: achamos Toronto multicultural, apeteceu-nos ficar em Montréal, vivíamos em Nova Iorque, de Washigton achamos que era imperial. E chegamos a Nova Orleães.
Não sei se alguém vem preparado para Nova Orleães, nós não vínhamos. Colonizada por franceses e espanhóis e povoada por descendentes de escravos africanos, além de imigrantes alemães, italianos e irlandeses, a cidade é uma junção multicultural e racial.
Chegamos com ameaças da tempestade Harvey que assolou o Texas. Por aqui a não ser vento no primeiro dia não se fez sentir. Ficamos 4 dias, viciados no French Quartier,
Ao chegar fomos almoçar a um PoBo mais afastado do centro e recomendado pelo Anthony Bourdain. Reconhecimento do local onde íamos dormir e arriscamos com o mamute até bem perto do French Quartier.
Sabíamos que Nova Orleães era o berço da música. Caminhamos 100 metros e não conseguimos parar. Começamos a ouvir uma gaita de foles ao pôr-do-sol, o som misturava-se com a batida de um jambé, uma voz de mulher acompanhava.
Gargalhadas, conversas, e o som de um cruzeiro a chegar. Nova Orleães está rodeada de água.
Mais uns passos e alguém vende arte, outros leem as cartas, a sina, as lojas de lembranças confundem-nos com lojas de bruxaria e voodoo. É quarta-feira, o ambiente está calmo. Passamos por bares quase vazios, noutros mais movimento, uma rapariga do primeiro andar atira colares para uma árvore.
Os colares chamam-se “beads”, são uma espécie de colar de contas. Muito popular nas festas de Mardi Gras, o nosso carnaval. A tradição remonta a 1872, quando um grupo de empresários inventou um rei chamado Rex que atirava colares de amêndoa para a multidão. A partir de 1900, surgiram uns colares de vidro que eram atirados e que foram um enorme sucesso entre todos, e começaram a ser colecionados. A cidade está cheia de colares, nas árvores, no chão. Mas dizem, nós não vimos, que há mulheres mostram os seios em troco dos colares, dando lugar à expressão “bread for tits”. Para a Duna que anda sempre com as maminhas amostra foi fácil mostrar e recebeu um colar em troca.
Num bar um duelo de pianistas, noutro uma banda toca um jazz mais moderno, numa esquina um saxofonista ganha a vida, um restaurant com música ao vivo surpreende-nos com uma banda mais tradicional. Som, som, som, melodia, melodia, música. Dançamos na rua, somos contagiados.
Fica prometida uma visita de dia, fica prometida uma visita no fim-de-semana quando a cidade estiver ao rubro.
As ruas são escuras e fazem lembrar uma cidade do tempo dos piratas, com casas iluminadas por candeeiros com velas. Nas lojas vendem-se máscaras, tiras de plumas, saias aos folhos, para convidar a uma qualquer performance no Moulin Rouge.
O Ivo não consegue parar de disparar fotos.
Passamos a quinta-feira num café a tratar fotos. Só acabamos à hora de jantar. Os restaurantes cheios de locais transmitem um jogo de futebol americano. Jantamos perto da meia-noite numa pizzaria. O calor incumoda, a humidade não dá tréguas.
Avançamos no dia seguinte para o French Quartier, é hora de almoço. Fazemos uma incursão ao café del monde para provar a iguaria local, uma espécie de Donut quente. Os sons não param de chegar, as melodias seguem-nos pela cidade. Pensávamos que encontrariamos uma zona sem vida de dia. A cidade não para. Artistas dançam sapateado. Chegamos ao mercado, somos contagiados com novos sons: um artesão trabalha, um homem abre ostras, outro faz bijuteria através de talheres, alguém serve um café. Conversamos demoradamente com o Bad-Ass Uncle Sam. Podem ver mais sobre ele aqui - www.badassunclesam.com
Saímos para regressar mais tarde, este fim-de-semana é prolongado nos Estados Unidos. O Labor Day é na segunda-feira. Ouvimos na radio que a cidade espera 300.000 pessoas. Ficamos a saber que é a festa do Decadent South, investigamos e vemos que é uma festa LGBS. É sexta-feira, as ruas encheu-se de polícia, despedidas de solteiro, cor, bandas a tocar na rua, tours a caminhar, pessoas a ler as cartas, a sina, uma rapariga toca violino, um homem prega no meio da rua.